COP30 e o impacto na área de compras
por Matheus Lima
Com o Brasil sediando a COP30 em Belém do Pará no ano que vem o assunto ganhou atenção e, com isso, grandes dúvidas surgiram:
O que é a COP30? Como isso afeta o Brasil? Quais segmentos serão mais afetados? Finalmente, o principal, como isso afeta o meu negócio ou a minha posição como gestor na organização onde trabalho?
O que é e para que serve a COP?
COP significa “Conferência das Partes”, são reuniões anuais entre países (seus representantes) onde também participam representantes da sociedade civil, organizações não-governamentais, setor privado e academia para avaliar o progresso e definir novas regras para a implementação de ações em conjunto pelos países sobre um determinado tema.
A COP que mais ganha destaque internacional é a COP do clima, mas isso não quer dizer que seja a única, existe também a COP da biodiversidade, da desertificação, além de outros tratados internacionais realizados ao longo dos anos.
A “Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima”, ou COP do Clima, é o lugar e data onde são discutidas e decididas, como o nome já diz, questões relacionadas às mudanças climáticas, pelos países signatários, com os três principais objetivos sendo:
“(a) Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, e envidar esforços para limitar esse aumento da temperatura a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e os impactos da mudança do clima;
(b) Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos negativos da mudança do clima e promover a resiliência à mudança do clima e um desenvolvimento de baixa emissão de gases de efeito estufa, de uma maneira que não ameace a produção de alimentos; e
(c) Tornar os fluxos financeiros compatíveis com uma trajetória rumo a um desenvolvimento de baixa emissão de gases de efeito estufa e resiliente à mudança do clima.”
Essas definições foram copiadas do Acordo de Paris e prevêem ainda que a implementação deve ser feita “de modo a refletir equidade e o princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais.", o que de forma simplifacada reconhece que países desenvolvidos têm responsabilidades maiores em relação àqueles em desenvolvimento, apesar de todos seres igualmente impactos pelo problema.
Portanto, a principal negociação das COPs entre os países signatários se dá em uma esfera diplomática global sob a qual existem diversas forças atuantes e que vão muito além da discussão técnico-científica, trazendo, quando muito, nuances econômicas, mas muito influenciadas pelas agendas políticas das nações.
Entendendo a urgência da situação, de aproximadamente 10 anos para cá, surgiu, em paralelo às negociações entre países, uma agenda de ação, que reúne organizações representantes da sociedade civil, empresas e governos subnacionais que decidiram unir forças e estabelecer suas próprias ambições e metas. Dois deles foram o Race to Zero e Race to Resilience, lançados na COP26 em Glasgow na Escócia. Acredito que são esses movimentos que terão maior impacto e influência nas agendas das empresas brasileiras ao longo do próximo ano e nos anos posteriores à COP30, a ser realizada em Novembro de 2025 em Belém, no Pará. Agora, qual influência será essa?
Como a COP30 afeta o ambiente de negócios no Brasil?
As mudanças climáticas são influências externas nas agendas das empresas. Por muito tempo, esses negócios, especialmente os maiores, gerenciaram riscos econômicos (inflação, dólar, taxas de juros), políticos (mudanças de governo), legais (legislações e regulamentações), tecnológicos (internet, celular, inteligência artificial), etc., mas negligenciaram aspectos sociais e ambientais. No entanto, a escalada da desigualdade social no Brasil (acompanhando a tendência mundial agravada na pandemia) e o aumento da frequência e intensidade dos efeitos das mudanças climáticas (secas na Amazônia, chuvas e enchentes cada vez mais destruidoras), geram uma cobrança maior da sociedade civil sobre a responsabilidade de todos aqueles à sua volta, incluindo especialmente as empresas.
As 6 influências citadas acima, também conhecidas como PESTEL, são o bê-á-bá da estratégia corporativa, ensinada em escolas de negócios há anos depois de seu surgimento em Harvard na década de 60. Portanto, a grande diferença é que, com a vinda da COP30 para o Brasil, a pressão externa, especialmente, social, ambiental e legal (vide aprovação do PL 182/2024 aprovado recentemente no Senado, que regulamenta o mercado de crédito de carbono no Brasil e a Lei 14.993, de 2024 regulamenta e cria programas de incentivo à produção e ao uso de combustíveis sustentáveis, como o diesel verde e o biometano).
Quais indústria serão mais afetadas?
Seria prepotência tentar discorrer sobre o impacto específico em cada tipo de indústria, mas é fato que algumas tendem a ser beneficiadas positivamente por estarem no lado da solução do problema, seja sob a ótica de mitigação ou compensação de emissão de gases de efeito estufa ou de adaptação para os efeitos da crise climática:
Projetos de energia limpa: solar e eólica são indústrias já consolidadas no país, mas a discussão de transmissão tem crescido, assim como algumas outras fontes alternativas como hidrogênio e eólica offshore.
Biocombustíveis: O aumento dos percentuais de combustíveis vindos de fontes renováveis nas misturas dos combustíveis e o incentivo à pesquisa de novas fontes de energia também são indústrias que devem se beneficiar ao longo dos próximos anos no país.
Soluções tecnológicas para eficiência: Ainda existe espaço para as principais indústrias nacionais serem mais eficientes na utilização de recursos, mas isso depende de avanços e investimentos tecnológicos específicos para cada uma.
Projetos de reflorestamento: naturalmente, projetos que geram créditos de carbono tendem a ganhar cada vez mais tração devido ao aumento das projeções de receita com a venda de créditos para mitigação.
Infraestrutura para adaptação: obras de infraestrutura pública para criação de cidades mais resilientes às catástrofes climáticas devem ganhar tração nos próximos anos, especialmente após as enchentes ocorridas em Abril desse ano no Rio Grande do Sul.
Outras indústrias que ainda podem se beneficiar com o assunto são as de agricultura sustentável e economia circular.
Para quem quer entender e acompanhar a posição do país em relação ao tema, acredito que a melhor forma é acompanhar o desenvolvimento do Plano de Transformação Ecológica, que deve ser a plataforma do país para a COP30 e além.
Parece que finalmente temos uma oportunidade clara de liderarmos essa pauta global criando soluções para um futuro mais justo e sustentável para todos e não restam dúvidas de que o Brasil será protagonista do assunto nos próximos anos.
O que isso significa para a área de Compras?
Para a área de compras isso significa estar atento às mudanças do mercado, antecipar os impactos na cadeia de suprimentos e garantir eficiência nos processos de compras, mesmo com critérios adicionais relacionados a sustentabilidade que passarão a ser demandados pelos clientes e repassados à cadeia.
Fica a pergunta: você vai antecipar os impactos dessas mudanças no seu negócio e agir como uma área estratégica ou vai esperar os riscos se concretizarem para correr atrás do prejuízo?
Matheus Lima é fundador da monai, empresa de presentes corporativos sustentáveis. Anteriormente atuou como executivo de compras em uma consultoria de gestão americana. É engenheiro, mestre pela University of Illinois e tem MBA internacional pela FIA.