Por André Gurgel | 09/05/2023 ás 09h00 | Atualizado 05/04/2024 ás 04h04

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A vez do Capitalismo Consciente

A vez do Capitalismo Consciente

Para muitos a palavra Capitalismo traz uma conotação negativa, associada a ganância, desejo de lucros exagerados, exploração sem limites das pessoas e do meio ambiente, exclusão social e indução a desigualdades.

Fato é que o Capitalismo é um gerador de riquezas e sem elas não seria possível construir o mundo que vivemos atualmente e nem mesmo distribui-la equitativamente, caso quiséssemos.

Mas será que seria possível construir um modelo de Capitalismo onde pudéssemos atender as muitas expectativas não plenamente contempladas hoje na sua forma e essência tradicional?

Um exemplo para melhor explicar o conceito em números:

O valor de mercado somado das big techs globais Apple, Amazon, Meta, Microsoft e Alphabet saltou de US$ 6,17 trilhões no final de 2022 para US$ 7,28 trilhões em fevereiro de 2023. Ou seja, um aumento de US$ 1,11 trilhões em apenas alguns meses. O valor atual de mercado destas empresas é maior que o PIB da maioria dos países do planeta. Entretanto a riqueza gerada pelos países é (em tese) empregada em benefício de sua população. Já a riqueza gerada pelas empresas no modelo capitalista tradicional é direcionada apenas a atender as demandas dos seus shareholders, deixando de fora muitos anseios da sociedade de um modo geral.

Estas reflexões motivaram o surgimento do que foi conceituado como Capitalismo Consciente, também conhecido como Capitalismo de Stakeholders. Neste modelo não apenas os sócios e acionistas teriam seus desejos atendidos, mas sim todos aqueles que se relacionam com as empresas e são afetados direta ou indiretamente pela sua gestão, ações e diretrizes.

Alguns movimentos com foco no atendimento as muitas demandas socio ambientais da população de diversos países surgiram simultaneamente pelo mundo. Nas empresas esta tendencia em olhar além do resultado vem sendo percebida também, sendo que a iniciativa mais conhecida e badalada e que melhor traduz este viés é o ESG.

Apesar da crescente preocupação global sobre estes "anseios", permanecem, entretanto, questões importantes a serem respondidas sobre a viabilidade em se fazer com que negócios sustentáveis de fato prosperem:

  • Será que temos líderes preparados para conduzir as empresas, direcionando seus esforços e suas metas através de premissas socioambientais?
  • Será que estes líderes estariam preparados para sacrificar parte dos lucros em agendas de interesse dos stakeholders?
  • E quanto aos sócios e acionistas? Estariam eles de acordo e incentivando tal conduta por parte dos seus C-Levels?

Todas são perguntas pertinentes e difíceis de serem respondidas. Se pensadas no coletivo nos levam a presumir que novos tempos demandam novas lideranças também. Há pelo menos duas décadas questões que envolvem a sustentabilidade nos negócios vêm sendo discutidas e eventualmente implantadas aqui e ali, porém ou elas foram insuficientes ou não surtiram em sua totalidade o efeito que se esperava.

O Capitalismo Consciente parece ser o empurrão que faltava para impulsionar a transformação da cultura corporativa tradicional vigente em uma cultura mais empática. E esta transformação só será efetiva se as empresas forem conduzidas por líderes conscientes. Organizações espelham suas ações no perfil do indivíduo que as comanda. É ele quem conduz, motiva e dá exemplo. Líderes conscientes são aqueles que inspiram e constroem equipes engajadas pelo propósito de um mundo melhor para todos.

E para concluir deixo aqui mais três perguntas relevantes na construção deste futuro:

  • Se existe a percepção que precisamos de um mundo melhor e mais justo e esta transformação só será possível nas mãos, mentes e corações de novos e melhores líderes, onde será que encontraremos estes gestores?
  • Será que as empresas estão de fato a procura destes profissionais ou ainda buscando apenas aqueles mais hábeis na multiplicação do resultado?
  • Os líderes atuais estão buscando a construção de equipes criativas e inspiradoras ou apenas bons profissionais do modelo "Comando & Controle"?

Me despeço aqui na esperança de termos respostas otimistas a estas e muitas outras questões na direção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

André Gurgel

Construtor de um mundo melhor & membro do Procurement Club



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