A relação do desconforto diário com o sentido de vida!
Alguém um dia nos contou que é possível estar plenamente satisfeito na posição que você já ocupa. E qualquer coisa diferente disso, seria um desvaneio da nossa mente. E não é sobre estar infeliz com o que se tem ou com o que você é. É referente ao sentido de não buscar algo, não correr atrás de um objetivo, como se fosse um contentamento sem acreditar que existe mais, que podemos mais.
Esse mês encerramos a primeira edição do Clube do Livro e falamos muito sobre o que faríamos se o medo não fizesse parte do nosso dia a dia. O que teríamos coragem de fazer, se não existisse o medo.
Quando a gente chega em algum lugar na busca de um objetivo, a gente não para. Já imaginou viver assim?
Isso é impossível!
Nós somos seres faltantes, temos assim, dentro de nós, a necessidade da conquista. Mesmo que sejam difíceis, na maioria das vezes, isso é até uma força motivadora. Ou talvez, por que crescemos batalhando por praticamente tudo, com o entendimento claro, de que nada cai do céu.
É da nossa essência ser preenchido por ambições difíceis, por objetivos mais longes, justamente pelo fato de ser mais complexo conquista-los, por traçar planos de voo em meio a um jornada as vezes solitária, de modo a impulsionar a sua biografia, sua narrativa, deixar rastro na sua história e como será lembrado por isso.
Então voce não vai ser feliz quando estiver plenamente satisfeito em um cargo, com seu corpo, ou com sua família, por exemplo. Seria esse o estado de busca?
Voce será feliz a medida que desprende esforço para aperfeiçoar os aspectos da sua vida, as circunstâncias de quem está ao lado e você ama.
Quem está completamente satisfeito, está estático. A vida é movimento e luta. É caminho, passada por passada. Só está inerte quem já morreu.
Já se frustrou por não estar satisfeito com seu corpo?
Ou desejou a plena realização profissional, mas nunca encontrou? Queria tanto aquela promoção, sem nem saber por que, e ela não veio te deixando cego para o reconhecimento da sua família, que admira o profissional que se tornou.
Parece que, em alguns casos, quando um ponto se ajeita ao outro tem algo para consertar.
Que bom! Já pensou se tudo estivesse pronto? Não haveria missão, planos e movimento. Somos um parafuso em meio a máquina toda. São Jose Maria Escrivá, em O Caminho, dizia: “Que grande coisa é ser um pequeno parafuso!”
E é no movimento que a vida acontece.
É caminhando que se faz o caminho. Desenvolver dá trabalho. Crescer dá trabalho.
E nesse movimento vamos aos poucos vivenciando os desconfortos que fazem parte do Viver. Aquele trânsito para chegar ao trabalho, o acordar cedo para estudar um pouco mais, a preparação para uma reunião, a parte operacional que não nos agrada, a tolerância em meio ao que é necessário e a falta da paciência que nos consome.
Enquanto está no rasinho, nós aguentamos. Ir até onde é possível, nós vamos... mas na hora que começa a incomodar, a nos confrontar, a gente desiste por que nos é exigido um desconforto. Paramos no meio do caminho, desistimos, sem mesmo entender o porquê... apenas por que se tornou difícil demais, por que deu trabalho além do que imaginávamos.
O simples fato de pensar na dificuldade, te faz paralisar e não seguir o próximo passo.
Quando voce ajusta a sua expectativa para a essa circunstância, voce consegue seguir. Ao tomar consciência de fato, que a vida passa por sofrimento em algumas etapas, sendo não estaremos imunes a isso, mesmo em meio a felicidade, saber lidar com a dor, com a frustração, com o desconforto, é parte da jornada. A gente nunca vai fazer só que gosta, independente da posição ou cargo, impossível fazer o que só dá prazer e é fácil, e trazer essa realidade ajuda inclusive na criação dos filhos – não os protegendo a qualquer custo das dores que vivenciarão nessa longa jornada da vida.
Existem coisas que nós só vamos experimentar, so vamos vivenciar e tocar com o coração, se pagarmos o preço de suportar e aprofundar. De arriscar a ir além! Existem encontros nessa vida que só são possíveis pela doação destas pessoas que se colocaram dispostas na trincheira. Quem não se doa, se perde sozinho... e nossa vida, meu caro, é feita de encontros.
Se quiser ficar no raso, então tenha expectativas rasas, talvez até sem emoções.
Quantas coisas vivemos no superficial, ou são interrompidas porque não toleramos o desconforto, por que achamos difícil prosseguir em meio a uma possível complexidade, a um degrau a mais.
Pare de evitar o difícil, só porque ele te parece difícil. E se não for?
É preciso ter uma constância, uma tomada de decisão diária, um sim todos os dias para aquilo que voce realmente quer e não somente quando se sentir entusiasmado, quando acordar animado. No comprimento do dever diário, a realização acontece. Faça um teste e verá.
Quando algo vale muito para você, a disposição para suportar o desconforto é maior. Mesmo que não tenha vontade, é o intelecto que comandará à vontade, por que sabe que aquilo te levará a algo maior – e vontade, nós sabemos bem, é algo que passa.
Uma história cheia de começos e recomeços que te levam sempre até o mesmo ponto. Troca de emprego, troca de academia, troca de faculdade, pela falta de coragem de enfrentar e continuar aquilo que precisa ser enfrentado.
Não despreze os pequenos passos que te ajudam a conquistar coisas maiores. São os pequenos desconfortos diários que nos fortalecem para enfrentarmos os sofrimentos inevitáveis.
E finalizo essa reflexão com mais uma frase de Josemaria Escrivá, que recomendo fortemente a leitura: “Não pudeste” vencer nas coisas grandes, porque “não quiseste” vencer nas coisas pequenas...
Comprometa-se e não se conforme em ser a média. O desconforto não vai te trazer nenhum trauma, aprenda a suportar os desconfortos diários, para que seu corpo aprenda a aguentar os grandes sofrimentos da vida.
Com carinho,
Aline, @aline.hrebelo