A jogada da TCL no Brasil Marca chinesa de eletroeletrônicos inaugura portfólio em linha branca e avança em produtos premium para conquistar mais mercado.
Fortes razões fazem fortes ações. O pensamento de William Shakespeare parece ter contaminado os executivos da Semp TCL, que anunciaram novidades para o mercado brasileiro na semana passada, em evento de pompa em São Paulo para parceiros e fornecedores. As razões para a divulgação por aqui são muitas. Primeiro porque o Brasil é um mercado naturalmente estratégico por seu tamanho (215 milhões de habitantes )e por seu potencial de consumo, com o maior PIB da região (R$ 9,9 trilhões em 2022, segundo o IBGE). Em segundo lugar, o País é considerado pela companhia uma avenida de crescimento, importante para recuperar os ganhos. O faturamento global da TCL fechou em US$ 9,09 bilhões em 2022, menor do que os R$ 9,53 bilhões registrados em 2021, o maior da história da empresa.
As vendas do ano retrasado, inclusive, foram o dobro de 2016, quando bateu US$ 4,24 bilhões. Agora com o mundo se estabilizando após três anos de pandemia, a companhia aposta suas fichas em mercados emergentes para avançar. E aí entram as ações no Brasil. Foram três as mais importantes mostras de que os chineses estão interessados em abocanhar market share por aqui: a presença no evento da presidente global, Juan Du, patrocínio à Copa Comnebol Libertadores da América e entrada no mercado brasileiro de linha branca com avanços em produtos premium nos setores de televisor, ar-condicionado, smartphones e wearables. "Estamos confiantes de que, em 2023, conquistaremos excelentes resultados no País", disse Yue Haiping, CEO da SEMP TCL no Brasil.
A TCL é a segunda maior marca global de smart TVs, segundo a Omdia, com 23,7 milhões de aparelhos comercializados ano passado, o que representa um share de 11,7%, empatada com a LG.
Na primeira posição está a Samsung, com 19,6%. Na América Latina e no Brasil, a companhia chinesa ocupa o terceiro lugar entre os maiores players de televisores. Segundo Carlos Li, vice-presidente de negócios no exterior do Grupo TCL e CEO da TCL Latam, "a grande aposta para manter esse ritmo, conquistando cada vez mais espaço, é investir mais nos mercados brasileiro e latino-americano". "Além de investimentos estratégicos, em inovação e experiências."
Para ganhar visibildiade, a TCL amplia seus investimentos em marketing na Amércia Latina, que tem seu foco principal no Brasil. A companhia patrocina árbitros das seleções masculina, feminina e sub-20 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e tem como embaixador o jogador Rodrygo Goes, da seleção canarinho e do Real Madrid. Agora, a marca patrocina o mais importante torneio de futebol do continente, a Libertadores, em contrato que vai de 2023 a 2026 — os valores não foram divulgados. O logotipo estará presente nas camisas dos árbitros, outdoors do campo e deve contar com ingressos para ativar seus clientes ao redor do mundo. Globalmente, também tem parcerias com Neymar, o surfista Gabriel Medina, o Minesota Timberwolves da liga americana de basqte (NBA), torneios da franquia do game Call of Duty e outras iniciativas.
NOVIDADES Estar presente na mente do consumidor visa a conversão em venda de seus produtos. Entre as novidades que chegam ao mercado nacional a partir do segundo semestre estão modelos de refrigeradores e máquinas de lavar, que inauguram o portfólio da empresa em linha branca. O refrigerador French Door C512CD e o Side by Side C513SB, além do Lava e Seca C310WDS, com capacidade de 11kg de lavagem e 7kg de secagem, estão entre os lançamentos. Para o line-up de televisores, a empresa foca na tecnologia Mini LED e produtos de tela grande. Destaque para a TCL QLED TV 4K C735, disponível em 98", a maior do mercado e líder global de vendas. Segundo dados da consultoria GFK, o mercado premium movimenta US$ 2,5 bilhões na américa Latina, com crescimento de 363% nos negócios de televisores em 2022, em relação a 2021.
"Estamos confiantes de que, em 2023, conquistaremos excelentes resultados no País" Yue Haiping CEO da Semp TCL no Brasil.
O português Rui Agapito, regional account director e head of Insights da GFK na América Latina, aponta que a TCL tem passado do quadrante mainstream para o powerbrands. Significa que tem liderado tendências, com tecnologia embarcada em produtos de maior valor agregado. "No último ano, a marca ganhou 17% de força de mercado no Brasil", disse Agapito. Leia-se mais vendas e maior faturamento nessa proporção porcentual.
Também chegam às prateleiras do varejo físico e virtual por aqui novos produtos da TCL nas categorias de soundbar (com o S522W) e de ar-condicionado (com a chegada do modelo TCL FreshIN Série Inverter, com design sofisticado e controle de voz). O nicho mobile é um caso à parte. Com os smartphones da série 40 (TCL 40R 5G e TCL 40SE), a marca visa conquistar 5% de share no País — hoje é traço —, ocupando o espaço deixado pela LG, que encerrou a fabricação de aparelhos há pouco mais de um ano. Esse mercado local é liderado pela Samsung, com 41,9% da fatia, seguida pela Morotola, com 20,6%, e Apple, com 18,3%, e Xiaomi, com 13,2%, de acordo com dados de fevereiro da Stacounter. O smartglass TCL Nxtwear S é outra novidade lançada no País.
No ano passado, a empresa inaugurou uma fábrica de condicionadores de ar em Manaus (AM), com capacidade de produção anual de 500 mil unidades. A previsão é dobrar esse número nos próximos três anos, segundo projeção de Carlos Li, CEO da companhia na América Latina. A planta manauara se soma à uma já existente também na capital amazonense e à outra em Cajamar (SP). Com a ampliação do portfólio e projeção de aumento das vendas, a preocupação é quanto à rede de assistência técnica da marca. Felipe Fay, CEO da Semp Amazonas (responsável pela parte fabril) e importante acionista da companhia, afirmou que está atento a essa questão. "A assistência técnica evolui à medida que aumentamos nossa atuação no mercado." Com fortes razões para isso. E fortes ações. Como ensina Shakespeare.