Por Aline Horstmann Rebelo | 01/02/2023 ás 09h00 | Atualizado 30/01/2023 ás 10h11

7min de leitura

A coragem de tomar uma decisão sem temer o seu próprio julgamento!

A coragem de tomar uma decisão sem temer o seu próprio julgamento!

No final de Janeiro, fomos surpreendidos com o pedido de renúncia de Jacinda Ardern, à reeleição do seu mandato - o que causou grande comoção e eu diria até mundial e acabou sendo notícias em vários países. Uma mulher que foi protagonista na liderança de um país com 5 milhões de habitantes, Nova Zelândia, uma população menor que São Paulo, fez além do que era o esperado e se destacou como uma líder compassiva não somente no discurso, mas que arrastava pelo exemplo, colocando em prática tudo o que pregava e discursava. Dona de uma popularidade alta e um índice elevadíssimo de aprovação, foi a chefe de estado mais jovem do mundo.

Em suas palavras, ela disse que não teria mais forças para continuar, sem “combustível suficiente no tanque”.  Um ato de humildade e coragem que na grande maioria das vezes faz com que essa desistência seja vista como derrota. E não é sempre assim, principalmente neste caso, onde ela deixa um legado que mostra a capacidade de uma mulher e mãe governar um pais com uma politica humana e resultados extraordinários, inclusive em meio à grande pandemia mundial, reconhecida mundialmente.

A repercussão e apoio à Jacinda se explica não somente por seu pioneirismo mas por uma série de fatores, além de um raro atributo presente em pessoas em cargos tão altos, raro mas não inexistente, que brilhava seu caminho e abria portas: a humanidade nas ações e projetos aliados aos valores de justiça e transparência.

Eu li várias notícias sobre esse assunto e me peguei refletindo, em meio a tantos acontecimentos que nos cerca, ao pararmos no final do dia, é claramente nítido entender como é difícil separar a realidade dos nossos julgamentos frentes as circunstancias que nos rodeiam. E os julgamentos que escrevo aqui, são os nossos julgamentos. Não somente dos outros.

Cada vez mais, ao aparar as arestas do autoconhecimento nos instalamos na nossa realidade, e ainda assim buscamos atender as expectativas de outra pessoa, esquecendo o que nós queremos, a nossa vontade.

São nesses momentos que não conseguimos nem perceber nossos sentimentos, e certamente a renúncia de Jacinda nos remete a casos que com certeza você conhece de alguém que estava em uma situação aparentemente favorável em um cargo sonhado e desejado – reconhecido por todos, sucessor no plano de ação da organização e ao menor sinal, essa pessoa toma a decisão de não continuar e mudar a rota.

Quando estava escrevendo este artigo, recebi a noticia que a Ana Karina Bortoni anunciou que deixará a presidencia do Banco BMG para se dedicar à vida pessoal e ressalta o quão foi dificil tomar essa decisão após anos desafiadores em meio a grandes conquistas.

As razões são inúmeras, mas fato é que a coragem de reconhecer e honrar os próprios limites, saber até onde se encaixa, onde encerra um momento e saber dizer não para uma segunda página não é para todos.

Somente voce sabe  todos preços que pagou, os preços que precisam ser pagos no cargo e o que você estaria disposto a abrir mão daqui para frente. A liderança tem inúmeras vantagens, mas é solitária e dolorida na maioria das vezes, sem um ombro amigo quando é preciso chorar e buscar alento – principalmente nos duros momentos. E para mulheres, a conta pesa mais, inevitavelmente, não seria uma coincidencia duas grandes lideres neste artigo.

Não é fácil e talvez poderia até ser mais simples, só que temos uma barreira quase que invisível porém forte que nos impede de separarmos o julgamento do fato, e ai nossos sentimentos ficam confusos e distorcidos. Tomar uma decisão dessas, é de fato algo que sem sombra de dúvidas, é muito pensado, desenhado e discutido – mais de uma vez.

Quando eu saí de uma empresa que vivi grande parte da minha vida, sai mesmo com a certeza de mudar a rota, porém certa de que nada é certo, ainda que pareça um trocadilho, mas foi depois de muito pensar e ponderar, conversar e deixar as portas abertas que seguir adiante seria a melhor decisão àquele momento.

O protagonismo, a coragem e a escolha de decidir seguindo o coração, colocando-se em primeiro lugar e não somente para agradar os demais, buscando limites para caber em formas que não nos representam ainda assusta muita gente. Dá medo, dá raiva, causa ansiedade.

Mas vou trocar o certo pelo duvidoso?

O que é certo nesta vida, senão a morte?

Vivemos em busca de acreditar em uma estabilidade que é finita, até que uma das partes se decida em não continuar a parceria. Não há certezas, não há mar calma que perdure por um longo tempo. Um barco não foi feito para ficar parado no porto.

Decisões erradas são aquelas que se tomam em função do que os outros esperam, daquelas que não ouvimos os nossos sentimos e achamos que outros estão esperando que você faça no lugar deles, por que talvez lhe faltou coragem em um determinado momento.

E não preciso mencionar o valor da saúde mental e emocional para justificar e manter a pressão que vem de todos os lados e que em certo momento da vida, nos custa mais que poderia valer, talvez em um início de carreira, onde nosso gás é maior aliado a força de vontade de abraçar o mundo. Não seria diferente em outra época da vida, exceto pela velocidade... lembra desta estrofe “Ando devagar, por que já tive pressa?” Colocar sua saúde em primeiro lugar é um ato de grandeza em meio a uma tomada decisão tão complexa, justo quando negligenciamos esse valor e na maioria das vezes só paramos quando não há mais força física para seguir, quando o corpo nos obriga a parar.

São nessas decisões difíceis de grandes profissionais e grande lideres que eu vejo como cada vez mais o autoconhecimento permite de maneira ao mesmo tempo que sutil e forte, a generosidade de reconhecer a importância de honrar suas escolhas e renuncias – com o mesmo valor de grandes conquistas, onde os valores são ordenados pelas virtudes norteadas em um ordenamento pessoal claro e genuíno.

Precisamos cada vez mais de pessoas com coragem de olhar para a realidade sem deixar que os seus julgamentos, (sim, por que somos cruéis conosco) - e os julgamentos de terceiros interfiram nas nossas decisões, respeitando aquilo que nos move, os nossos verdadeiros sentimentos.

É quase que um exercício diário, observar sem julgar, viver a realidade como ela é e te digo mais, seria muito mais benéfico para nós mesmos e para aqueles que nos cercam, investirmos nossos esforços e dedicar energias em frentes que nos convide a refletir que o que pensamos sobre a realidade e o que de fato é a realidade, são exatamente diferentes – não seriam iguais de maneira alguma e os nossos julgamentos falam sobre nós, somente sobre nós e não sobre o outro. Talvez seja difícil de encarar que isso seja uma verdade absoluta, talvez por que o nosso orgulho nos impeça de ver além.

Por fim, finalizo essa reflexão com uma passagem bíblica que me dá forças nos momentos que eu mais preciso em tomadas de decisões complexas:

“Pois, quando sou fracoé que sou forte.”  Coríntios 2 -12

Vale a pena pensar!

Com carinho,

Aline Rebelo, @nobrium_carreira

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