A carga da mulher que poucos conseguem sentir o peso!
A cada ano que passa é notável as transformações na sociedade no que diz respeito às prioridades para as mulheres, um caminho longo e duro, mas que felizmente estamos seguindo pouco a pouco. Se antes, para nós mulheres, existia um grande obstáculo em vencer as ações limitadas a família e maternidade, percebemos que em um curto espaço de tempo, foi possível avançar nos estudos e conquistar independência financeira com uma carreira profissional, indo além da vocação e até em profissões antes dominadas pelos homens. Avançamos, mais ainda falta um longo caminho! Falar disso em 2023, mesmo não sendo novidade para nós, me dói saber que muito falta nessa caminhada, principalmente em como capacitar mais mulheres para a inserção no mercado de trabalho e garantir perspectivas de crescimento profissional em igualdade com os homens, em todas as etapas de um planejamento de carreira, sendo possível atingir cargos executivos em grandes organizações.
Em uma pesquisa recente do último ano realizada pela Gartner junto da Awesome, denominada, Woman in Supply Chain, mostrou que ainda estamos abaixo de 20% nos cargos de C-Level na cadeia de Suprimentos como um todo e apenas 21% conseguem assumir a cadeira da vice presidência nessas empresas, e assim, complementam os 39% da força de trabalho total em Compras e Logística. Um número muito abaixo do que esperamos em termos de representatividade considerando ser pauta prioritária nas grandes organizações, além de discutir a equidade salarial com a maior transparência possível.
O fato é que em meio a tantos obstáculos e dificuldades, a carga da mulher continua elevada e pesada não somente nos departamentos e operações da organização, ultrapassando as barreiras do portão de entrada da empresa e avançando para um trabalho invisível que poucos percebem, valorizam e auxiliam no dia a dia, o que causa um forte impacto diretamente em sua saúde mental.
A grande maioria de nós mulheres, e arrisco a dizer, senão todas, exercemos diariamente um esforço físico e não quantitativo, mental e emocional, para alcançar um resultado concreto, um objetivo desenhado e sonhado, além da funcionalidade do lar que é quase sempre assumida por nós, fazendo com que a cabeça não pare pelas 24 horas seguidas de um dia, não havendo um descanso da mente, nem mesmo aos finais de semana.
De maneira silenciosa, esse stress causado pela carga mental torna a jornada de trabalho da mulher, mais complicada e as vezes dolorosa, se não for compartilhada e dividida em busca de uma rede de apoio, ajuda mutua e trabalho em equipe. A nossa sociedade de um modo geral acostumou-se a não valorizar e remunerar o trabalho doméstico além da administração da casa. Soma-se a isso a gestão de consultas medicas e horários de exames além de compras de remédios e alimentação, bem como a manutenção de serviços do lar, entre tantos outros. A medida que essa responsabilidade aumenta em jovens mulheres; nota-se que ao casarem, uma vez que não tinham essas responsabilidade, ora antes codividas com os pais, aumenta o sentimento de desigualdade e descontentamento que é levado para o trabalho com sentimentos de angustia que não se sabe muito bem de onde vem. E assim, aliado a algum problema profissional, o resultado pode ser muito ruim.
A situação se complica impactando ainda mais as mulheres dentro da maternidade. Muitas delas ainda pensando na possível gestação, já sabem que a responsabilidade pelos cuidados é maior “estruturalmente” em nossa sociedade para o lado delas – e ao se tornarem mães, assumem também uma lista infinita de afazeres, as aulas extras e esportivas, o acompanhamento escolar, a compra do presente do dias dos professores, a lembrança de natal e a garantia de atender as festinhas de aniversario de cada coleguinha da sala educacional, sem mencionar o zelo pela saúde e alimentação dos filhos. Isso é tão sério e grave, que um estudo feito pelo “Clube de Malasmadres” da Espanha, mostrou que na difícil tarefa de conciliar as atividades domesticas e profissionais, além das pessoais - pelo menos 58% das mulheres daquele pais, tomam decisões que implicam certas renuncias como por exemplo redução da jornada de trabalho e licença não remunerada ou até mesmo o pedido de demissão sem ao menos ter um plano B em mente.
É sabido que existem momentos marcantes na vida em que a carga mental se torna evidente, não somente com a maternidade envolvendo os filhos, há também situações quando os pais envelhecem e exigem mais cuidados, ou mesmo vêm morar em casa, a responsabilidade usualmente cai para as mulheres.
Todo esse trabalho que recai sobre os ombros femininos forma essa invisibilidade em torno de tarefas tão corriqueiras e cotidianas, que somente se alguém não o fizesse, depois de alguns dias, o impacto maior seria percebido e geralmente quase ninguém está disposto a assumir a autorresponsabilidade para tal – de modo, que se voltarmos para as nossas empresas, a atenção recai para a forma como nós também contribuímos para o aumento desta carga mental, ao designar tarefas como buscar um cafezinho, preparar uma festinha de comemoração de resultados, elaborar uma apresentação, escrever no dashboard por que a letra é mais legível entre outras inúmeras tarefas ordinárias diretamente e somente às mulheres – atividades que podem ser perfeitamente realizadas por homens, mas acaba sendo atribuídas pelos vieses inconscientes que nos rodeiam em um tom sutil mas muito marcante de desigualdade de gênero.
Cabe também dizer que é possível diminuir essa carga e tornar mais leve o dia a dia, sabendo que não é preciso dar conta de tudo com consciência a sua realidade e circunstâncias. Eu mesma não gosto da expressão “equilibrar os pratinhos” para descrever as demandas de multitarefas das mulheres. É preciso saber que alguns pratinhos precisam ficar no armário em um dia, e no outro dia podem entrar na fila do equilíbrio, dentro da grande e absoluta verdade de que nós mulheres não precisamos dar conta de tudo a todo momento. Saber pedir ajuda não te tornará menos esposa, menos mãe, menos profissional e muito menos mulher e te fará melhor do que o sentimento de frustação por um “pratinho” que caiu no chão. Delegar é uma qualidade que suporta a virtude da ordem e assim pode te proporcionar uma gestão do tempo, permitindo uma vida mais leve, com menos stress e pressão, o que impacta diretamente na sua saúde mental.
No mês da mulher, pensar e refletir sobre o que recai com origem da nossa sociedade junto as mulheres torna-se mais importante do que entregar flores e bombons e cabe a nós seguir os passos para que a caminhada seja mais tranquila e mais curta, para que nossas filhas não sofram o que hoje nossa geração vivencia todos os dias.
A pressão que envolve o nosso setor com demandas inesperadas e prazos encurtados fazem parte do dia a dia, mas deveria ser parte também o entendimento claro deste trabalho invisível que acompanha sua colega ao lado. Entender de maneira compassiva ajudaria na sua grande maioria das vezes reduzir também a carga mental no ambiente corporativo e através da autogestão se fazer mais presente em um apoio genuíno e a contento de todos.
Isso colabora por um ambiente mais harmonioso, uma equipe com menos pressão e por consequência, entregas com maiores resultados.
De nossa parte, podem sempre contar conosco!
Um feliz dia da mulher a todas as leitoras dos Procurement Digital, e às mulheres de nossos leitores! Que seja um mês muito especial com boas reflexões!
Com carinho,
Aline Rebelo